Morre Papa Francisco, aos 88 anos; Sepultamento acontece no sábado

Papa Francisco

Após longa internação no início do ano, em fevereiro, Papa Francisco faleceu na manhã de segunda-feira no Vaticano, madrugada no Brasil; Argentino e reformista, Pontífice foi o primeiro não europeu

Na manhã da última segunda-feira, 21, foi anunciada pelo Cardeal Dom Kevin Joseph Farrell, Camerlengo da Santa Igreja Romana, a morte do Papa Francisco, líder da Igreja Católica e Vigário de Cristo na terra, aos 88 anos.

“Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã [2h35 no horário de Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, voltou para a Casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo de verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Uno e Trino”, disse Cardeal Farrell, comunicando a notícia do falecimento.

Francisco estava em seu quarto na Casa Santa Marta, onde residia desde sua eleição há 12 anos, em 13 de março de 2013. Seu corpo será sepultado na Igreja de Santa Maria Maior, em Roma, após os ritos e exéquias, no sábado, dia 26.

História e legado

Batizado pelo nome Jorge Mario Bergoglio, nasceu na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Filho de imigrantes italianos.

Técnico químico, entrou no Seminário Diocesano de Villa Devoto, ingressando no noviciado da Companhia de Jesus (Jesuítas), em 1958. Sua ordenação sacerdotal ocorreu em 13 de dezembro de 1969. Dedicou-se ao ofício de ensinar seminaristas como professor universitário.

Emitiu a profissão perpétua em 1973 e tornou-se provincial jesuíta da Argentina. Em 20 de maio de 1992, Papa João Paulo II o nomeou Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Buenos Aires, sendo ordenado em 27 de julho com o lema episcopal Miserando atque eligendo (Olhou-o com misericórdia e o escolheu, em latim).

Em 1997, foi promovido a Arcebispo Coadjuntor da Arquidiocese de Buenos Aires, tornando-se Arcebispo Primaz da Argentina, em 1998. Papa João Paulo II criou-o cardeal no consistório de 21 de fevereiro de 2001. Foi também Grão-Chanceler da Universidade Católica Argentina.

Até o início da sede vacante, em 2005, foi membro das Congregações para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; para o Clero; para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; também do Pontifício Conselho para a Família e da Pontifícia Comissão para a América Latina.

Participou do conclave de 2005 que elegeu Papa Bento XVI. Em 13 de março de 2013, após a renúncia do Papa Bento XVI, aos 76 anos, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, então Arcebispo de Buenos Aires, foi eleito 266º Papa da Igreja Católica, assumindo o nome de Francisco.

Pontificado

Francisco assumiu seu pontificado após a renúncia de seu antecessor, Bento XVI. Foi o primeiro Papa não europeu a assumir a liderança da Igreja.

Também foi o primeiro Papa do continente americano e jesuíta. Seu nome “Francisco” também foi utilizado pela primeira vez.

Alguns de seus feitos simbolizam ligações entre reformas, unidade e olhar misericordioso. É o segundo Pontífice mais velho da história, atrás de Leão XIII, falecido com 93 anos, em 1903.

Durante seu pontificado, Francisco retomou conversas com autoridades políticas e religiosas. Diálogo entre autoridades do Vaticano e da China aconteceu durante seu período.

Ainda esteve na Terra Santa, visitando locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos. Um legado a favor da tolerância religiosa. Em 2014, contou com um encontro histórico entre o presidente de Israel, Shimon Peres, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, no Vaticano.

No Sri Lanka, encontrou-se com líderes budistas, hindus e muçulmanos. Nas Filipinas, encontrou-se com 6 milhões de fiéis, recorde de público.

Articulou a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. Em 2015, visitou os dois países. Foi o primeiro Papa a discursar no Congresso Americano.

A guerra civil na República Centro-Africana não o impediu de visitar o país. Muito menos os conflitos na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul. Foi um Papa da paz.

Também foi o primeiro a se encontrar com o Patriarca da Igreja Católica Russa, desde o cisma há mais de mil anos.

Na Grécia, ofereceu asilo a famílias migrantes, tema muito abordado em seus discursos. Na Polônia, orou em silêncio no campo de concentração em Auschwitz.

Foi o primeiro Papa a visitar a península arábica, desembarcando nos Emirados Árabes Unidos. Também o primeiro a andar pelo Iraque. Encontrou-se com o aiatolá Al-Sistani, autoridade islâmica xiita.

No Canadá, pediu perdão aos povos originários, massacrados pela Igreja, assim como no Peru. Pediu perdão a famílias e pessoas que sofreram abusos sexuais por líderes católicos na França e no Chile.

Reformou a Cúria Romana, garantindo mais voz a leigos e religiosas. Constituiu o Conselho dos Cardeais, para receber orientações de prelados.

Rezou pelos países em conflito: Síria, Ucrânia, Rússia, Israel e Gaza. Não se cansou de orar por esses povos.

Prezou pelo compromisso ecológico e pela fraternidade universal. Escreveu muitos documentos sobre esses assuntos, conscientizando os fiéis sobre o cuidado com a vida e a criação de Deus.

Proclamou mais de 900 santos, entre eles São João Paulo II, São João XXIII, São Paulo VI e Santa Dulce dos Pobres. Visitou mais de 60 países, em 47 viagens apostólicas. Escreveu 4 Encíclicas, publicou 39 Constituições Apostólicas e 7 Exortações Apostólicas.

Criou 163 cardeais, em 10 consistórios. Concluiu o Ano da Fé, iniciado por Bento XVI. Proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia em 2016. Não concluirá o Jubileu da Esperança aberto por ele no dia 24 de dezembro de 2024, que segue até o dia 6 de janeiro de 2026.

JMJ e o Brasil

A primeira Viagem Apostólica e primeiro compromisso internacional de Francisco foi uma visita oficial ao Brasil, por ocasião da JMJ Rio 2013.

O tema da Jornada Mundial da Juventude em 2013 foi “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19).

Esteve nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Aparecida (SP), entre os dias 23 e 28 de julho de 2013. Nas ocasiões, celebrou Missas, abençoou fiéis e esteve próximo do seu rebanho.

Nas areias da praia de Copacabana, reuniu cerca de 3,7 milhões de jovens, sendo a segunda maior jornada da história, ficando atrás apenas de Manila (Filipinas), em 1995, com 4 milhões.

Durante essa visita no país, passou por lugares como o Santuário Nacional de Aparecida e o Seminário Bom Jesus, em Aparecida, e a Comunidade da Varginha, o Hospital São Francisco de Assis e a Catedral de São Sebastião, no Rio de Janeiro.

Francisco ainda participou de outras 3 Jornadas Mundiais da Juventude: Cracóvia (Polônia, 2016), Cidade do Panamá (Panamá, 2019) e Lisboa (Portugal, 2023), e anunciou a próxima em Seul (Coreia do Sul, 2027).

Sua relação com o Brasil também foi entendida no dia de sua eleição. À época, o Santo Padre escolheu o nome “Francisco” porque, após sua eleição, o Cardeal Dom Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo (SP), disse-lhe, com um abraço: “Não se esqueça dos pobres”.

Francisco também era devoto da Virgem Maria. Em 2017, durante a comemoração dos 300 anos do encontro da imagem, no Santuário Nacional de Aparecida, ofertou uma rosa de ouro, que hoje está exposta no Museu do santuário.

Repercussão

Líderes mundiais, autoridades e entidades e religiosos prestaram homenagens e condolências pelo falecimento do Papa Francisco.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), emitiu uma nota dizendo que se une ao povo de Deus em oração e preces pelo falecimento do Papa Francisco, “peregrino da esperança, pastor humilde e corajoso, testemunha incansável da misericórdia de Deus”.

Diz ainda que Francisco conduziu a Igreja com “sabedoria evangélica, compaixão e espírito missionário”. A nota recorda a presença do Papa Francisco durante a JMJ Rio 2013.

“Como Igreja no Brasil, rendemos graças ao Senhor por este testemunho luminoso. Unimo-nos a toda a Igreja em oração, confiando a alma do querido Papa Francisco à misericórdia do Pai. Que o Ressuscitado, a quem ele seguiu com amor fiel, o receba no seu Reino de luz e de paz”, finaliza a nota.

O Arcebispo de São Paulo (SP), Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, disse que recebeu “com profundo pesar a notícia do falecimento Papa Francisco”, convidou o povo de Deus a se unir em oração e também presidiu a Santa Missa em sufrágio de sua alma, nesta segunda-feira, às 12h, na Catedral da Sé.

A Arquidiocese de Aparecida (SP), em nome do Arcebispo Dom Orlando Brandes, recordou a visita do Santo Padre em 2013 no Seminário Bom Jesus e a proximidade do Papa com Cardeal Dom Raymundo Damasceno, Arcebispo Emérito de Aparecida.

“Por tão grande privilégio essa Arquidiocese reza, de joelhos, pelo seu descanso eterno. Nossa Arquidiocese despede-se, louvando a Deus pelo seu Pontificado, do qual teremos saudades”, diz a nota.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), demonstrou seu pesar por meio de uma nota, em que afirma a oração ecumênica neste momento.

“Nós, teus irmãos e irmãs ecumênicos, oraremos, Papa Francisco, em solidariedade às comunidades enlutadas da Igreja Católica Apostólica Romana e para agradecer a Deus por sua vida e testemunho”, salienta.

Personalidades católicas, padres, freiras, cantores, congregações e instituições confessionais se manifestaram. Também líderes de outras denominações religiosas demonstraram carinho ao Santo Padre.

Outras conferências episcopais também lamentaram, como na Bélgica, Inglaterra e País de Gales, Argentina, Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Espanha, França, México, entre outras.

O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que foi um dia de muita tristeza pelo falecimento de Francisco. “Acordamos hoje um pouco órfãos de seu afeto”.

“Foi o Papa de todos, mas principalmente dos excluídos. Do mais pobres, dos injustiçados, dos imigrantes, dos que não têm voz, das vítimas da fome e do abandono”, enfatizou.

O Vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também exaltou o legado de Francisco. “Fez história ao inaugurar um novo tempo para a Igreja e ao apontar a perseverança pela igualdade, por meio da convivência harmoniosa do diálogo, como o caminho para a humanidade”.

Os presidentes do Senado Federal, Davi Alcolumbre, da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Luís Roberto Barroso, também se manifestaram.

O Presidente da Itália, Sergio Mattarella, afirmou que sentiu o “grave vazio que se cria com a perda do ponto de referência”, suscitando dor e comoção entre os italianos e o mundo.

A Primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, agradeceu pelo “privilégio de desfrutar da sua amizade, dos seus conselhos e dos seus ensinamentos, que nunca falharam, mesmo em momentos de provação e sofrimento”.

Outros líderes também prestaram homenagens:

  • Emmanuel Macron, presidente da França
  • Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
  • Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha
  • Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal
  • Karin Keller-Sutter, presidente da Suíça
  • Charles III, rei da Inglaterra
  • Keir Starmer, primeiro-ministro da Inglaterra
  • Friedrich Merz, primeiro-ministro da Alemanha
  • Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
  • Vladimir Putin, presidente da Rússia
  • Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
  • Isaac Herzog, presidente de Israel
  • Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina
  • Javier Milei, presidente da Argentina
  • Claudia Sheinbaum, presidente do México
  • Narendra Modi, presidente da Índia
  • Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália

Segundo o Vatican News, o corpo do Santo Padre será transladado à Basílica de São Pedro no dia 23 de abril. A Missa das Exéquias acontecerá em 26 de abril, seguida do sepultamento na Basílica de Santa Maria Maior.

A Promocat – Promotora Católica se une à Santa Igreja Católica e a todos os fiéis católicos do mundo, rezando em sufrágio da alma de nosso querido Papa Francisco. Miserando atque eligendo!

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